Anthropologie - Expo Photo : Autour du Rituel / Em Torno do Ritual

Autour du Rituel / Em Torno do Ritual é a exposição fotográfica realizada pelo IMAF -

Institut des Mondes Africains (Instituto dos Mundos Africanos)

e pelo Serviço de Comunicação da MMSH -

Maison Méditérranéenne des Sciences de l'Homme (Casa Mediterrânea das Ciências Humanas),

Centro de Pesquisas Francês Situado em Aix-en-Provence, perto de Marselha.


    A exposição foi parte das comemorações dos 20 anos da MMSH, apresentada no Hall de entrada do edifício, inaugurada em 5/4/2018.


    A exposição consistiu em painéis com fotos e textos em francês de três antropólogos, que pesquisaram e realizaram fotos individualmente, cada um expondo suas respectivas temáticas:


Sandra Fancello (Francesa, Diretora de Pesquisas no CNRS);

Fabio Viti (Italiano, Professor da Univ. de Aix-Marseille) e

João de Athayde (Brasileiro, hoje Doutor em Antropologia, então pesquisador-doutorante no IMAF).  


NOTA do AUTOR do BLOG, João de Athayde:

    Na ocasião, Sandra Fancello e Fabio Viti eram já antropólogos renomados de longa carreira, concursados e com diversas obras publicadas, sendo para mim, uma honra participar deste projeto junto a eles.


    Fiz este blog para divulgação de meu trabalho em antropologia e currículo, sendo esta a razão do acento que dei aqui à minha parte da exposição.


Agradecimentos / remerciements : 


Christophe Chat-Verre

Tete Kitissou (Togo)

Sylvie Laurens-Aubry (MMSH)

Evelyne Disdier (MMSH) 


PARA UMA MELHOR VISUALIZAÇÃO:


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Um Olhar Através do Atlântico - Benim, Brasil, Portugal, Togo.

    Três séries de fotografias realizadas por João De Athayde durante seu trabalho de campo antropológico em Benin, Togo, Brasil e Portugal.

    Três ângulos de visão sobre um Atlântico negro e crioulo, onde as formas de trabalho se adaptam, onde as práticas culturais se fundem, se renovam e se recriam - um Atlântico-rio, navegável em todas as direções, geográficas ou temporais, via para uma grande circulação de indivíduos e ideias. 

    O ponto de partida é o litoral da África Ocidental, as costas do Benim e do Togo, países da antiga Costa dos Escravos, de onde milhares foram enviados à força para o Brasil e onde alguns, uma vez libertados, conseguiram retornar.

Un regard à travers l’Atlantique

    Trois séries de clichés proposés par Joao De Athayde, prises au cours de ses recherches de terrain en anthropologie réalisées entre le Bénin, le Togo, le Brésil et le Portugal.

Trois angles de regard à travers un Atlantique noir et créole, où des formes de travail s’adaptent, où des pratiques culturelles fusionnent, se renouvellent et se recréent – un Atlantique-fleuve navigable en tous sens, géographique ou temporel, voie pour une grande circulation d’individus et d’idées. 

Le point de départ est le littoral ouest africain, les côtes du Bénin et du Togo, pays de l’ancienne Côte des esclaves, d’où des milliers ont été envoyés de force au Brésil et où quelques-uns, une fois affranchis, ont réussi à revenir.

I - Trabalhadores no Benim e no Togo

        Quatro maneiras diferentes de ganhar a vida que podem ser encontradas nesses dois países vizinhos, de dimensões modestas e muitas vezes compartilhando as mesmas populações, traços culturais ou características econômicas. 

I - Travailleurs au Bénin et au Togo

Quatre façons différentes de gagner sa vie qu’on peut trouver dans ces deux pays limitrophes de dimensions modestes et partageant souvent les mêmes populations, traits culturels ou caractéristiques économiques. 

1 - O Pirogueiro do Lago - Togo


    O jovem pirogueiro empurra o barco que atravessa o Lago Togo. Ele é a ligação entre a região de Agbodrafo e Togoville e transporta solitariamente vários passageiros e motocicletas.  

Le piroguier du Lac, Togo.
Le jeune piroguier pousse l’embarcation qui croise sur le Lac Togo. Assurant la liaison entre la région d’Agbodrafo et Togoville, il transporte à lui seul plusieurs passagers et motocyclettes.  


2 - Impressores Agudás - porto-Novo, Benim

 


Ao centro, o proprietário de uma modesta gráfica que trabalha com velhas máquinas alemãs Heidelberg que há muito tempo caíram em desuso na Europa. Os Agudàs (famílias que reivindicam origens brasileiras que remontam ao século XIX ou XVIII), estavam entre as primeiras populações alfabetizadas da região. Estiveram particularmente presentes nas esferas intelectual e administrativa e, a partir dos anos 1920, no mundo da imprensa e da impressão.   

Imprimeurs Agudàs – Porto-Novo, Bénin.
Au centre, le propriétaire d’une modeste imprimerie qui fonctionne à base d’anciens modèles de machines allemandes Heidelberg, tombées en désuétude en Europe depuis longtemps. Les Agudàs (familles qui revendiquent une origine Brésilienne remontant au XIXème siècle), ont été parmi les premières populations lettrées dans la région. Ils ont été très présents dans les sphères intellectuelle et administrative et, à partir des années 1920, dans le monde de la presse et de l’imprimerie.   


3 - O "Recarregador de Baterias" - Região das Colinas, Benim.

 
    O óleo de palma é o principal produto desta aldeia, localizada a cerca de 40 km de Bohycon, onde não há eletricidade disponível. O técnico local ganha a vida carregando telefones celulares por uma pequena quantia, usando um engenhoso sistema que conecta painéis solares no teto a uma bateria de motocicleta.  

Le « rechargeur de batteries » - région des collines, Benin. 
L’huile de palme est le principal produit de ce village situé à une quarantaine de kilomètres de Bohycon, où ne parvient pas l’électricité. Le technicien local gagne sa vie en monnayant contre une modeste somme la recharge des téléphones portables, grâce à un astucieux système qui relie des plaques solaires placées sur le toit à une batterie de moto.  

4 - Vaqueiro Peul e seu Rebanho - Ouidah, Benim.


     Un bouvier Peul et son troupeau – Ouidah, Bénin. 

II - Expressões do Sagrado

     O sagrado e o profano, o sério e o humorístico, o divertido e o reverente se entrelaçam em proporções variáveis. Toda festa é uma forma de ritual e o ritual é muitas vezes uma festa. 

II - Expressions du sacré

    Le sacré et le profane, le sérieux et l’humour, le divertissement et le respect s’entremêlent dans des proportions variées. Toute fête est une forme de rite et le rite est souvent une fête. 

5 - Egungun, "O que retorna". Yorubá - Ouidah, Benim.


    Acredita-se que as vestimentas do Egungun (ou simplesmente Egun) são animadas diretamente por espíritos dos ancestrais iorubás. Quando vários Égunguns saem às ruas, centenas de pessoas se reúnem para vê-los dançar e realizarem acrobacias. Os espectadores devem evitar a todo custo o contato com suas vestes, o que pode levar a risos, tensões e brigas quando um Egungun avança em direção da multidão.

Égungun, le revenant yoruba – Ouidah, Bénin.
    Les pagnes de l’Égungun (prononcé égougoun) sont sensés être animés directement par l’esprit des ancêtres yorubas. Lors que plusieurs égunguns sortent dans la rue, des centaines de personnes se réunissent pour les voir danser et réaliser des acrobaties. Les spectateurs doivent cependant éviter tout contact avec leurs pagnes, ce qui peut générer des rires, des tensions et des bagarres lorsque qu’un Égungun fonce dans la foule.

6 - Espiritualidade e Humor na Festa de Dodezan - Togoville, Togo.

 
    Na festa ligada ao vodun (entidade espiritual) Nyigblin, é necessário "abandonar a doença" e proceder a uma espécie de limpeza. Ao final de um grande cortejo com forte senso de humor, tudo o que esteja relacionado a lixo, objetos velhos ou quebrados e "coisas ruins" é descartado, e doenças e infortúnios são repelidos antes de entrar no novo ano. No final, centenas de participantes banham-se nas águas do Lago Togo. 

Spiritualité et dérision dans la Fête de Dodezan – Togoville, Togo. 
Dans la fête liée au vodoun (entité spirituelle) Nyigblin, on doit « abandonner la maladie » et procéder à une sorte de nettoyage. À l’issue d’un grand cortège fortement teinté d’humour, on se dépouille de tout ce qui est du ressort des ordures, des objets vieux ou cassés et « des choses mauvaises », pour ensuite rejeter les maladies et les malheurs avant d’entrer dans l’année nouvelle. À la fin, des centaines de participants se baignent dans les eaux du lac Togo. 

7 - Calungas, bonecas sagradas do Maracatu Nação, durante a Noite dos Tambores Silenciosos, Recife, Pernambuco, Brasil.


    O Maracatu Nação é um cortejo festivo ao redor de um rei e rainha negra, que se encontra na área metropolitana de Recife. São grupos baseados em religiões afro-brasileiras e sua existência é relatada desde o período escravista no século XIX. Durante a Noite dos Tambores Silenciosos, grupos de Maracatu provenientes de vários bairros ou cidades vizinhas se apresentam em frente a uma pequena igreja do século XVIII, frequentada então por escravos. À meia-noite, as luzes do bairro são apagadas e os tambores são silenciados para um rito consagrado aos ancestrais e celebrado inteiramente em línguas africanas, particularmente o Yorubá. 

Calungas, les poupées sacrées du Maracatu nation, au cours de la Nuit des tambours silencieux – Recife, Pernambouc, Brésil. 
Les Maracatus nation sont des cortèges festifs autour d’un roi et d’une reine nègres qu’on trouve dans la région métropolitaine de Recife. Ce sont des groupes qui reposent sur les religions afro-brésiliennes et leur existence est signalée depuis la période esclavagiste au XIXème siècle. Pendant la Nuit des tambours silencieux, des groupes de Maracatu provenant des divers quartiers ou des villes voisines se présentent devant une petite église du XVIIIème siècle, fréquentée alors par les esclaves. À minuit, les lumières du quartier s’éteignent et les tambours se taisent pour un rite dédié aux ancêtres célébré entièrement dans des langues africaines, notamment l’yorouba.  

8 - Sacerdote de Candomblé diante de seu altar - Recôncavo Baiano, Bahia, Brasil.


    Região de importantes propriedades agrícolas na época da escravidão, o fundo da Baía de Todos os Santos, chamado de Recôncavo Baiano, é uma importante área de mistura populacional e diversidade cultural. É considerada uma região de referência para o Candomblé, religião afro-brasileira baseada em práticas e elementos africanos. 

Prêtre de Candomblé devant son autel – Village du Recôncavo Baiano, Bahia, Brésil. 
    Région de grandes exploitations agricoles au temps de l’esclavage, le fond de la baie de Salvador de Bahia, appelé Recôncavo, est une importante aire de brassages de populations et de diversité culturelle. Le Recôncavo est considéré comme une région de référence pour le Candomblé, religion afro-brésilienne constituée à partir de pratiques et d’éléments africains. 

III - Caretos: A Circulação Atlântica de Uma Máscara

Caretos, Caretas, Kaletas ou Abras; estes são os nomes de uma família de máscaras encontradas no contexto luso-brasileiro, que aparecem em uma grande variedade de manifestações. Estas máscaras foram introduzidas no Togo e no Benim por ex-escravos libertos que retornaram do Brasil no século XIX, conhecidos como Agudás ou Brasileiros.

São, em sua maioria, máscaras assustadoras, feitas em torno de uma "estética de fealdade". Chamados também de Abra ou Abras, termo que faz referência à sua função: a de manter afastado o público que se reúne durante as saídas de máscara Bourian ou Burrinha, a festividade que presta homenagem aos ancestrais do Brasil tanto no Benin quanto no Togo.

Os Caretos são sempre uma combinação de máscara e figurino. Os trajes são costurados meticulosamente à mão. As máscaras podem ser feitas de madeira, tecido, metal, papel-machê ou serem máscaras de plástico, látex ou borracha industriais, mas devem sempre provocar uma sensação de estranheza ou desconforto, apresentando sempre uma postura corporal ou dança perturbadora para o público. 

Caretos – Circulation atlantique d’un masque

Caretos, Kaletas ou Abras ; ainsi sont appelés une famille de masques qu’on trouve en contexte luso-brésilien, qui apparaissent dans des manifestations très variées. Ces masques ont été introduits au Togo et au Bénin par les anciens esclaves affranchis revenus du Brésil au XIXème siècle, appelés Agudàs ou Brésiliens.

Careto ou Kaleta signifie « grimace » en portugais : il s’agit, pour la plupart, de masques effrayants confectionnés autour d’une « esthétique de la laideur ». Abra veut dire « ouvre » en portugais, nom qui renvoie à leur fonction : éloigner le public qui s’agglomère lors des sorties de masques Bourian, la fête qui rend hommage aux ancêtres venus du Brésil tant au Bénin qu’au Togo.

Les Caretos sont toujours un ensemble masque et costume. Les costumes sont méticuleusement cousus à la main. Les masques peuvent être confectionnés en bois, en tissu, en métal, en papier mâché ou encore choisis parmi des masques industriels en caoutchouc, mais doivent susciter une sensation d’étrangeté. Un Careto doit toujours présenter une attitude corporelle ou une danse inquiétante vis-à-vis du public. 

9 - Foto Anual (2015) dos Agudás após a Missa do Domingo da Festa do Bonfim - Catedral de Porto-Novo, Benim.


    Durante décadas, os Brasileiros da cidade de Porto-Novo posaram para a foto de saída de missa no "Dia do Orgulho Brasileiro", o segundo domingo depois da Epifania. A festa do Bonfim na Bahia é realizado exatamente na mesma data. Podemos ver o estandarte da Irmandade Brasileira do Bom Jesus do Bonfim, escrito em português, idioma que os Agudás não dominam mais.

    Duas variações de Kaletas da Bourian / Burrinha se destacam como 'convidados': 'Obama', na parte inferior à esquerda, e o vodun Mami Watà (Mammy Water), associado à prosperidade, no centro, segurando o vodun-serpente Dan enrolado em torno da cintura. 

Photo annuelle (2015) des Agudàs après la messe du dimanche de la fête du Bonfim – Cathédrale de Porto-Novo, Bénin.
    Depuis des décennies, les ressortissants Brésiliens de la ville posent pour la photo de sortie de messe le « Jour de l’orgueil brésilien », deuxième dimanche après l’Épiphanie. C’est exactement à la même date que se tient la grande fête du Bonfim à Bahia. On aperçoit l’étendard de la Confrérie brésilienne du bon Jésus du Bonfim, écrit en portugais (langue que les Agudàs ne maitrisent plus). Deux variations de Kaletas issus de la fête Bourian se distinguent plus particulièrement comme « invités » : « Obama », au fond à gauche, et le vodoun Mami Watà (Mammy Water), associé à la prospérité, au centre. Mami tient, enroulée autour de la taille, le serpent-vodoun Dan. 

10 - Os Abras do grupo de Bourian (Burrinha) da Aldeia de Atouéta dançam Samba - Togo


     Nesta aldeia de agricutores, diz-se que "todos são Brasileiros". Seus ancestrais estavam "sob a proteção" (eram servos ou escravos) de Joaquim D'Almeida, um ex-escravo que voltou do Brasil em 1835 e, por sua vez, tornou-se um rico comerciante de escravos. As famílias locais se apegam e se identificam com a memória de D'Almeida, em um processo que poderia ser chamado de "parentesco simbólico". As fantasias dos Abras exibem as bandeiras brasileira e togolesa (segundo plano à direita). A máscara do vodun Mami Watà pode ser visto no fundo, à esquerda. 

Les Abras du groupe Bourian du village d’Atouéta dansent la samba – Togo.
Dans ce village de cultivateurs, on dit que « tous sont des Brésiliens ». Leurs ancêtres étaient « sous la protection » (étaient servants ou esclaves) de Joaquim D’Almeida, un ancien esclave revenu du Brésil en 1835 et devenu à son tour un riche négrier. Les familles locales s’attachent et s’identifient à la mémoire de D’Almeida, dans un processus qu’on pourrait appeler de « parenté symbolique ». Le costume des Abras arborent les drapeaux brésilien (au premier plan) et togolais (au fond à droite). Au fond à gauche, on distingue Mami Watà. 

11 - Caretos no carnaval da aldeia de Lazarim, Freguesia de Lamego, Portugal


    Os Caretos portugueses estão ligados às "Festas de jovens solteiros", que acontecem no inverno. Vários povoados no Norte e Nordeste de Portugal possuem Caretos, cada um com suas próprias características. Os de Lazarim, feitos de madeira por artesãos especializados, estão entre os mais renomados do país e, em 2018, o vilarejo empreendeu uma candidatura ao título de Patrimônio Intangível da Humanidade pela UNESCO. Até cerca de dez anos atrás, a maioria dos grupos de Caretos só se apresentavam em seus próprios festivais de aldeia. Atualmente, é mais provável que eles apareçam em outras cidades portuguesas e espanholas quando são convidados para desfiles de Caretos e máscaras similares. 

Caretos au carnaval du village de Lazarim, Portugal. 
    Les Caretos portugais sont liés aux « Fêtes des jeunes hommes célibataires » qui se déroulent en hiver. Plusieurs villages du Nord et Nord-Est portugais ont des Caretos, chacun ayant des caractéristiques propres. Ceux de Lazarim, faits en bois par des artisans qualifiés, sont parmi les plus renommés du pays et en 2018 le village a entrepris une candidature au patrimoine immatériel de l’humanité à l’UNESCO. Il y a une dizaine d’années encore, la plupart des ensembles de Caretos ne sortaient qu’aux fêtes de leurs propres villages. Actuellement ils se présentent davantage dans d’autres villes portugaises et espagnoles lors d’invitations pour des défilés de Caretos et masques similaires.   

12 - Membros do Grupo de Máscaras Caretos de Acupe - Santo Amaro, Bahia, Brasil.


Acupe é uma vila de pescadores no Recôncavo Baiano, Distrito de Santo Amaro da Purificação. O grupo do vilarejo é conhecido pela originalidade de suas máscaras e fantasias, o que lhes rendeu convites no Brasil e no exterior. Eles já se apresentaram uma vez no Festival das Divindades Negras no Togo. Aqui, dois Caretos removem suas máscaras no final da apresentação. 
Atualmente, em Portugal, a identidade da pessoa mascarada é pública; na África, ela deve que permanecer em segredo. No Brasil, dependendo da cidade, pode-se encontrar ambos os casos.

Membres du groupe de masques Caretos de Acupe – ville de Santo Amaro, Bahia, Brésil. 
    Acupe est un village de pêcheurs dans le Recôncavo Baiano. Le groupe de la ville est connu pour l’originalité de ses masques et costumes, ce qui lui vaut des invitations au Brésil et à l’étranger. Il s’est rendu une fois au Festival des divinités noires au Togo. Ici, deux Caretos ôtent leurs masques à la fin de leur performance. De nos jours, au Portugal, l’identité du masqué est publique ; en Afrique, elle doit rester secrète. Au Brésil, selon la ville, on peut trouver les deux cas.




 

Os Painéis de Fabio Viti - O INTERROGATÓRIO DO CADÁVER (população Baulé, Costa do Marfim)

 O INTERROGATÓRIO DO CADÁVER

    Quando o chefe de família (famièn) morre, os restos mortais são retirados de seu corpo: cabelos, pelos púbicos e unhas - representando a cabeça, o sexo e as extremidades - reconstituindo simbolicamente o corpo do falecido. Estes fragmentos, envoltos em um pano, são colocados dentro de uma espécie de maca de bambu, coberta com veludo vermelho e cujas dimensões lembram à de um corpo humano. Esta representação sobrevive ao corpo mortal, estendendo-o como seu "duplo".


    Este objeto, o kpata, que supostamente representa o corpo da família, é carregado na cabeça por dois necróforos, os alufuè, assistido por uma terceira pessoa. Um notável 'interroga' o cadáver, fazendo perguntas em voz alta sobre as causas de sua morte. A estas perguntas, o corpo carregado na cabeça pelo alufuè tem duas possibilidades de resposta: responderá afirmativamente, tocando três vezes as mãos levantadas do questionador; ou negativamente, tremendo para a direita e para a esquerda. Também pode não responder, evitando o movimento, hesitando ou recuando ligeiramente. A maca também pode identificar pessoas, movendo-se na direção delas e tocando suas mãos ou, na ausência delas, apontando para sua casa, um parente, um objeto.

    As "respostas" do kpata são extraídas em partes, em abordagens progressivas, em tentativa e erro. A maca não fala, ela só pode responder com gestos codificados às perguntas que lhe são feitas. Assim, o kpata expressa o que todos já sabem mas não podem dizer abertamente.

    A primeira parte do questionamento diz respeito à busca das causas da morte do famièn; a maca procede, através de seus movimentos, para acusar um dos presentes, indo tocar suas mãos. Por este procedimento ordálico (NDT: perigoso; de um risco fatal), o cadáver designa uma ou mais pessoas responsáveis por sua morte.


    A segunda parte do interrogatório diz respeito à designação do sucessor. Na praça principal da aldeia, a maca que encarna o rei falecido toca as mãos levantadas de um dos presentes três vezes, retirando-o do círculo de notáveis e designando-o, através do contato direto e aos olhos de todos, como seu sucessor.

    Mais tarde, durante uma sessão reservada aos membros de sua família estendida, o falecido, ainda por meio da maca, procederá à distribuição da herança de seus bens materiais pessoais.

    Com base na autoridade do corpo da família que representa, a maca indica, designa, denuncia e acusa, com uma evidência material e visual que assusta os presentes, especialmente porque a forma espetacular não é estranha aos funerais reais. Os julgamentos da kpata têm a força de uma provação e não admitem réplica.

    O falecido agora conhece e vê coisas que estão além do alcance do comum dos mortais.


Funeral do famièn Nana Boua Yao Koffi, Taki-Salekro

Baulé, Costa do Marfim, agosto de 1988

Texto: Fabio Viti

Tradução: João de Athayde












 










    Não tenho as fotos ou os painéis do terceiro participante da exposição para postar.

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    Link para o blog de uma exposição de fotos anterior, que fiz após minha primeira viagem à África

    "De Retorno à Porta do Não-Retorno", bilíngue português e francês:

  Photo Blog De Retour à la Porte du Non-Retour


    Obrigado!

  Anthropologie - Expo Photo : Autour du Rituel / Em Torno do Ritual Autour du Rituel / Em Torno do Ritual é a exposição fotográfica  realiz...